29 de mai. de 2007

Mago da Musica Popular Moderna

Dj Jazz
dj jazz é dj e pesquisador musical


Jorge Ben (apenas Ben, porque Ben Jor não existe para mim) é uma das figuras mais importantes da musica popular brasileira. Sua discografia é cronologicamente uma viagem na nossa musica popular, desde a bossa nova, passando pela jovem guarda e o tropicalismo ate chegar à sofisticada musica pop dos anos 70.

Nossa viajem começa com um 78 rpm com as musicas "Mas que nada" e "Por causa de você menina". Sucesso absoluto, esta músicas trazem os arranjos do jovem João Teodoro Meirelles e seu grupo, os Copa 5, numa orquestração matadora dando ênfase ao violão negróide do Ben entre a pontuação dos metais.

Com sucesso imediato, Ben teve a oportunidade de gravar seu primeiro álbum, "Samba Esquema Novo", contando com um time de arranjadores, como JT Meirelles, Gaya e o Grupo Bossa Três. Em um estilo único, Jorge combinava letras extremamente simples a arranjos mais complexos, sempre destacando a batida de seu violão. Aliás, o violão de Jorge é um capitulo a parte: ninguém além do próprio Jorge e do Fritz (Trio Mocotó) consegue tocar o violão com a afinação de Jorge Ben. O motivo é que Jorge, vindo de uma família pobre, aprendeu a tocar violão com um método de banca de jornal e um violão de segunda mão, o que o obrigava a afinar o violão a sua maneira. Sem saber ele já estava inventando um estilo único, uma marca registrada, ao ponto de ao primeiro acorde de uma canção sua o ouvinte já identificar "essa batida é do Ben".

Seus quatro primeiros álbuns (Samba Esquema Novo, Sacundin Ben Samba, Ben é Samba Bom e Big Ben) são todos calcados no samba jazz ou como era chamado na década de 60 MPM (musica popular moderna). Apos esta fase bossa, Jorge passa a viver em São Paulo no final de 1966, onde tem contato com músicos da chamada Jovem Guarda como a dupla Roberto e Erasmo Carlos. Neste período o bairro do Brooklin em São Paulo é o reduto da boemia e dos grandes artistas da época e dessa nova experiência Jorge lança um disco fora do seu selo (Philips) em 1967: O Bidú - Silêncio No Brooklin, onde mistura a nova linguagem musical com seu samba, batizando carinhosamente seu som de Jovem samba. Neste disco Jorge vem acompanhado do Jorge Ben Trio, que mais tarde a seria renomeado como Trio Mocotó. Alem do balanço clássico do seu violão, instrumentos elétricos como órgão e o pandeiro fortíssimo de Nereu Gargalo marcam a pontuação rítmica do disco, numa visão mais fina do estilo popularizado por Roberto e Erasmo.

Ate ai Jorge ainda mantém alguns elementos da sua fase bossa, mas já demonstra que novamente iria transcender unindo o clássico ao popular com a mesma maestria, marcando o ritmo de uma forma genial, ao mesmo tempo em que empregava letras extremamente simples e de fácil apego popular a arranjos de orquestras bem complexos. Em 1969, sai o álbum homônimo "Jorge Ben", conhecido informalmente como Flamengão, devido ao desenho genial da capa, cortesia do artista Albery. A partir do Flamengão a coisa começa e pegar fogo. Neste disco Jorge conta com arranjos do Maestro Rogério Duprat, uma das pedras fundamentais do tropicalismo. Duprat uniu elementos de orquestras como cordas, ao balanço do violão do Bem e o derive rítmico do grupo de samba Originais do samba para criar verdadeiras obras de arte. Musicas como Barbarella e Take It Easy My Brother Charles (recentemente sampleada deu duo Drumagick) numa viajem alucinante pelo universo tropicalista. Neste Período as letras de Ben começam a ficar mais intelectuais, mas não perdem seu apego popular.

Em 1970 sai o álbum "Força Bruta", onde oficialmente aparece o nome Trio Mocotó, como acompanhantes. A partir desse álbum Jorge sai em turnê com o trio pelo mundo, chegando ate o Japão onde lançaram um álbum nunca editado no Brasil. De volta ao Brasil Jorge lança em 1971 o álbum Negro é lindo, uma fantástica viagem sobre a cultura negra marcada pelas orquestrações do lendário maestro Arthur Verocai. Deste álbum temos faixas incríveis como "Comanche" (apelido carinhoso de João Parahiba do Trio Mocotó) e "Porque é Proibido pisar na grama", sampleada pelos Racionais Mcs. Em 1972 sai o algum BEN, talvez o mais fraco de sua discografia com o nome Jorge Ben. Mesmo sendo um disco considerado fraco, nele está a versão original de Paz e Arroz, clássico repaginado recentemente pelo Clube do Balanço no revival do samba rock nos anos 2000.
Em 1973 Jorge não lançou nenhum álbum com faixas inéditas,apenas uma coletânia de seus maiores sucessos agrupados em pout pourri chamada 10 anos depois. Em 1974 Jorge quebra tudo mais uma vez ao lançar seu álbum "A Tábua de Esmeralda". Numa viajem sem limites ele escreve letras que falam de filosofia e alquimia misturadas ao cotidiano como futebol e mulheres. A tábua de Esmeralda é fantástica, desde a capa com seus desenhos incríveis do alquimista Flamel, num marco da música popular brasileira.

Em 1975 Jorge lança Solta o Pavão, seguindo a mesma temática do Tábua de Esmeralda, mas utilizando elementos da mitologia e astrologia. Solta o Pavão é como um folow up da Tábua de Esmeralda, uma olhada detalhada nas duas capas e a audição dos dois discos demonstram que um segue o outro. No mesmo ano Jorge lança um álbum duplo com Gilberto Gil, o Gil e Jorge. O álbum conta com dois violões poderosos (Gil e Jorge) um baixo e percussão, fundindo elementos afros a musica brasileira numa mistura única. Pra fechar em 1976 sai o álbum África Brasil, a primeira vez que Jorge troca o violão pela guitarra elétrica em um álbum, o que para muitos críticos foi a sua derrota musical. Polemica à parte em África Brasil Jorge conta com arranjos de Jose Roberto Bertrami (Azymuth) e um time de músicos da pesada entre eles os percussionistas Nene e o baterista Wilson das Neves. Nos anos citados, Jorge gravou outros álbuns no Brasil e no exterior, mas que não agregam muito a sua impecável trajetória. Fica impossível citar os compactos gravados e descrever seus papeis nas épocas citadas, entre os compactos mais famosos está o que inclui "Carolina Carol Bela", parceria de Jorge com Toquinho, que ficou mundialmente famosa apos ser sampleada por Marky e Xrs na sua LK.

Dizer qual o melhor álbum do Jorge Ben é uma tarefa impossível, cada disco, cada compacto dentro de sua conjuntura política, social e principalmente musical, tem um valor único, o que coloca Babulina (este é um dos muitos apelidos de Jorge Ben) num patamar único dentro da musica brasileira. Tente você caro leitor dizer qual é o melhor álbum de Jorge Ben, ou ainda qual sua melhor musica. Eu já ouvi todos os discos citados centenas de vezes, já pirei em cada capa dos seus álbuns e não cheguei a nenhuma conclusão, sua obra nos permite apenas afirmar que enquanto usou o nome Jorge Ben (antes do Ben Jor e da guitarra) Jorge foi um artista completo.

Para os djs e apreciadores do vinil uma boa pesquisa nos sebos garante o acesso a todos os álbuns citados por um preço razoável. Já para a galera digital, se consegue alguns álbuns em CD, remasterizados e com as capas originais também por ótimos preços. Só não aconselho as coletâneas, existe uma centena no mercado e milhares de musicas disponíveis na internet, mas desta forma não se consegue acompanhar suas fases, verificar as mudanças de um álbum para outro, não se tem uma linha cronológica ouvindo coletâneas. Então pegue todos os álbuns do Ben e boa audição, vocês não irão se arrepender.

Publicado em: www.eletronicbrasil.com.br

Nenhum comentário: